Mate-Papo #1: Pega tua Cuia e Vem Prosear com Cristiano Quevedo

Tchê, se tu tá por dentro do melhor da música nativista gaúcha, certamente tu já ouviu alguma canção do Cristiano Quevedo, né? Mas pra quem ainda não conhece, o Cristiano é um renomado cantor e compositor da música tradicionalista gaúcha. Natural de Piratini/RS, começou seus 24 anos de carreira nos festivais de música nativista, onde conquistou os principais prêmios do gênero no Rio Grande do Sul. Com 15 discos gravados, é conhecido por sua autenticidade, simpatia e proximidade com o público.

A carreira de Cristiano é uma verdadeira celebração da herança cultural do Rio Grande do Sul e uma demonstração do compromisso em preservar e compartilhar essa nossa riqueza com uma audiência global. Seus shows continuam a encantar o público, apresentando releituras de clássicos e novas canções, mantendo viva a autenticidade e a paixão pela música gaúcha. 

Além disso, Cristiano é um radialista respeitado, que promove a cultura regional em todo o Brasil e também no exterior, sendo um baita defensor da tradição gaúcha.

Nesta edição do Mate-Papo tivemos a alegria de conversar com esse artista e amigo que, em muitas ocasiões, nos deu a honra de entoar seus cânticos “com o coração na garganta”, como ele mesmo afirma, no palco do Estribo Hotel Estância.

Com a palavra, Cristiano Quevedo.

 Onde nasce tua alma musical?

A minha música nasce junto comigo. Eu venho de uma cidade (Piratini/RS) onde há uma atmosfera muito forte de tradicionalismo, Revolução Farroupilha, costumes e tradições. Piratini foi a primeira capital Farroupilha, escolhida por Bento Gonçalves e seus comandados. E lá os ideais de liberdade, igualdade e humanidade ainda vivem, no casario, nos costumes, na tradição do povo. O campo é sempre muito presente, pois apesar da cidade ser pequena, o município é muito grande. Na minha época, a pecuária era a principal atividade econômica.

E o tradicionalismo nasce através do encontro de Barbosa Lessa, com Paixão Côrtes. E Luiz Carlos Barbosa Lessa também é natural de Piratini, então toda essa atmosfera acabou norteando a minha infância. A música nasceu ali. Ela é a minha maneira de exteriorizar o meu amor pela cultura e pela tradição do meu povo.

O que representa o campo pra ti? 

Eu digo sempre que o campo alimenta o corpo e alimenta a alma. É no campo que a gente recebe as primeiras lições da natureza. É só observar os animais ou a própria natureza que a gente aprende muito com ela. O campo nos traz um alimento pra a alma, através da inspiração poética e  de tudo o que nos reconecta à terra.

A música é uma linguagem universal que percorre o mundo, mas, acima de tudo, quando se fala em música regional do sul do Brasil, música gaúcha, ela também tem esse componente muito importante. Que é o que nos reconecta com a nossa terra, com o lugar de onde viemos, de onde vem a nossa história, o nosso orgulho e a nossa tradição.

Qual tua memória mais antiga em relação à música tradicionalista?

Eu lembro da chegada do Congresso Tradicionalista Gaúcho a Piratini, nos anos 80. E ali, me deparei com aqueles nomes todos: Antônio Augusto Fagundes, Luiz Carlos Barbosa Lessa, Rodi Borghetti, Paixão Côrtes. Enfim, naquele congresso os tradicionalistas exaltavam os costumes, a nossa tradição e os rumos do movimento.

Logo depois surgiu, no Congresso tradicionalista, a ideia de realizar um festival em Piratini. E então, quando nasceu a primeira vertente da Canção Nativa, tive a certeza de que era aquilo que eu queria seguir pra minha vida. Um palco cheio de luz, onde os artistas subiam pra cantar músicas inéditas e deixar também o seu legado, a sua visão de Rio Grande do Sul, de anseios, de costumes e tradições através desta linguagem universal que é a música. Então ali, na primeira vertente, eu tenho certeza que foi a “madrinha oficial” desse sonho, que hoje se tornou realidade, de eu ser um dos intérpretes da música regional do sul do Brasil.

O que mais te inspira no momento da composição? Como acontece o teu processo?

A inspiração, acima de tudo, vem de uma determinada ansiedade, uma inquietude que acho vital pro processo criativo e de quem utiliza a arte pra se comunicar. Então, o que mais me inspira são os momentos em que sou fisgado por essa ansiedade de me comunicar, de entregar algo. 

Algo que vem, de uma forma positiva, incomodar o meu coração e, acima de tudo, na valorização daquelas palavras que quero transformar em canção. Pra que elas tenham sentido e sejam frases que eu possa deixar como legado pra quem acompanha a minha música, o meu canto, o meu trabalho.

Quais músicos te fizeram entender com mais profundidade a tua própria arte?

Olha, são tantos e tantos músicos que me deram norte… Mas eu lembro da chegada, na minha casa, de um disco chamado “Luiz Marenco canta Jayme Caetano Braun”. Esse disco foi muito importante pra mim porque me conectou com outro universo, um universo missioneiro, um universo fronteiriço.Embora Piratini seja uma cidade que fica perto da fronteira com o Uruguai, principalmente, ali ainda eu tinha pouco recurso de informações musicais e poéticas. Logo depois, quando cheguei em Pelotas, nos anos 90, me deparei com um manancial inesgotável, onde me conectei e aprendi com todo o movimento musical nativista do Rio Grande do Sul, que estava enfervecendo naquela época. Alguns artistas latinos também trouxeram informações que me abriram pro mistério da música, como: Os Almôndegas, Família Ramil, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Los Olimareños do Uruguai, Mercedes Sosa, Teresa Parodi. Enfim, eu acabei conhecendo mais a música latina e brasileira. Então, eles também acabaram me dando um certo caminho, uma referência maravilhosa, que posso usar hoje na minha música.

Além da música, quais outras influências que lhe ajudam a pensar a música?

Hoje, a música é a maneira que tenho pra exteriorizar os sentimentos. Principalmente o sentimento gaúcho. Quando eu falo “gaúcho”, não quer dizer cercar as coisas tradicionais do Rio Grande do Sul. Um gaúcho é aquele ser que habita esse local aqui do mundo, no sul de um país da América do Sul, que tem os seus costumes, sua tradição, o seu orgulho. E quando eu falo de orgulho e vaidade, eu exalto isso, porque é uma maneira da gente celebrar e honrar a oportunidade de ter nascido aqui. 

Então, anseios, amor, fé, família, isso tudo hoje se torna muito presente no meu coração. E aí, sinto o coração na garganta, quando eu vou cantar essas canções para um público que, ou está ali porque me acompanha e celebra junto comigo, ou está apenas desfrutando de um momento e conhecendo este artista, que canta o amor pela sua terra e não tem problema nenhum de passar uma noite ali sendo apenas o entretenimento das pessoas. Eu gosto de ser a trilha sonora de um momento especial e é através da minha música que eu faço isso. Então, o que me motiva cada vez mais é poder também, um dia, ser influência pras novas gerações que vão entender porque que esse gaúcho, porque que esse músico, porque que esse ser humano ama tanto e entrega tanto amor quando canta nessa profissão que muito me orgulha também.

O que o Estribo representa pra ti?

O Estribo, hoje, representa a extensão da minha casa, da minha família, com toda generosidade que a família Orso tem de me receber e me oportunizar poder fazer aquilo que amo. E ser a trilha sonora de um momento tão especial das pessoas. Estar no Estribo, pra mim, é poder ter um palco, poder ter luz, a um canto que nasce junto com os anseios também da família Orso. Eu tive oportunidade de ver o Estribo nascer, através do Pedrinho Orso e da Marga, juntamente com seus filhos Vanessa e Bruno. Eu vi nascer tudo aquilo, um sonho do tamanho do Estribo.

Hoje, o Estribo recebe o mundo. Podemos dizer que o mundo passa pelo Estribo, e quando alça a perna, enxerga aquele universo todo de qualidades. Eu costumo dizer que cada canto do Estribo é um cenário. Porque tudo ali tem amor, tudo tem elementos que te conectam com a tradição, com os costumes, com a natureza e, acima de tudo, com a paz.

Tu vai para o Estribo com a tua família, com os teus amigos, com os teus colegas de serviço. Aquela atmosfera transcende o espaço físico e tu consegue te espiritualizar, te encontrar com a música, com a arte, com o campo. Mas, acima de tudo, tu te encontra contigo mesmo.

O Estribo Hotel Estância é um lugar em que a paz desencilhou e fez morada. E quem tem as rédeas somos nós, que podemos frequentar e sair de lá melhores do que chegamos. Ser a trilha sonora de cada noite no Estribo é, para mim, a realização do sonho. Que Deus acompanhe, ilumine e permita que possamos nos encontrar com a gente e com os amigos lá no Estribo Hotel Estância.

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